Ler, pensar e assinar...
Lamentou Stravinsky que as pessoas não fossem «ensinadas a amar a Música, mas apenas a respeitá-la».
Podemos acolher a ideia e transpô-la para o ensino da língua portuguesa, relevando como é natural a Literatura, e concluir que a «Pátria» de todos nós não é amada, nem minimamente respeitada, mas antes parodiada. Não sabemos se devemos rir ou chorar perante situações como a de apresentar «Frei Luís de Sousa» de Almeida Garrett sob o título «Até ao meu regresso...»; transformar um soneto de Luís de Camões numa notícia de jornal, um texto de Fernando Pessoa num requerimento, um auto de Gil Vicente numa carta de reclamação, ou ainda envolver a poesia de Cesário Verde, o poeta de Lisboa e Mestre de Fernando Pessoa e heterónimos, com editoriais, textos publicitários e outros.
Temos assistido à sedimentação do culto do facilitismo, da permissividade e da ignorância.Entretanto, valores como a delicadeza, a curiosidade, o espírito de rigor, a exigência, o esforço ou o brio continuam a ser riscados do quotidiano escolar, com o aval de muitos que integram o Ministério da Educação. Testemunhámos esse comportamento nas últimas provas de avaliação do 9º ano, em que se substituiu «Os Lusíadas» de Luís de Camões por pontos de um Tratado da União Europeia, se interpretou Alves Redol e Luísa Costa Gomes com respostas de escolha múltipla e de verdadeiro/falso. Lamentavelmente, situação idêntica se prevê para os próximos exames do 12º ano do Ensino Secundário. Resposta múltipla a LPortuguesa? Como é possível??!!
Porque ao Ministério da Educação se exige responsabilidade no seu directo envolvimento com o Ensino, é necessári e urgente pôr cobro a esta situação, a qual não dignifica a Escola, enquanto lugar de continuidade de um património herdado, de aquisição permanente de novos saberes e de criatividade inovadora.
Avaliar assim NÃO. NUNCA.