O Barco Vai de Saída | António Zambujo & Ana Moura
António Zambujo & Ana Moura no Coliseu. Uma leitura-cantada diferente
O barco vai de saída
Adeus ao cais de AlfamaSe agora ou de partida
Levo-te comigo ó cana verdeLembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventuraP'ra lá da loucura
P'ra lá do Equador
Ah mas que ingrata venturaBem me posso queixar
da Pátria a pouca farturaCheia de mágoas ai quebra-mar
Com tantos perigos ai minha vidaCom tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltosQue eu vou de fugida
Sem contar essa história escondidaPor servir de criado essa senhora
Serviu-se ela também tão sedutoraFoi pecado
Foi pecadoE foi pecado sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa
Gingão de roda batidacorsário sem cruzadoao som do baile mandado
em terra de pimenta e maravilhacom sonhos de prata e fantasia
com sonhos da cor do arco-írisdesvaira se os vires
desvairas magias
Já tenho a vela enfunadamarrano sem vergonha
judeu sem coisa nem fronhavou de viagem ai que largada
só vejo cores ai que alegriasó vejo piratas e tesouros
são pratas, são ouros,são noites, são dias
Vou no espantoso trono das águasvou no tremendo assopro dos ventos
vou por cima dos meus pensamentosarrepiaarrepia
e arrepia sim senhor que vida boa era a de Lisboa
O mar das águas ardendoo delírio do céu
a fúria do barlaventoarreia a vela e vai marujo ao leme
vira o barco e cai marujo ao mar vira o barco na curva da morte
e olha a minha sortee olha o meu azar
e depois do barco virado grandes urros e gritos
na salvação dos aflitos estala, mata, agarra, ai quem me ajuda
reza, implora, escapa, ai que pagode rezam tremem heróis e eunucos
são mouros são turcossão mouros acode!
Aquilo é uma tempestade medonhaaquilo vai p'ra lá do que é eterno
aquilo era o retrato do infernovai ao fundo vai ao fundo
e vai ao fundo sim senhor que vida boa era a de Lisboa
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