PhotobucketPhotobucketPhotobucketPhotobucket DES-ENCANTOS .................... blogo de notas: <strong>IRENE LISBOA </strong> ...(3)

31 de julho de 2003

IRENE LISBOA ...(3)

Irene Lisboa, ou a intimidade como sinal de vida. Não vou deixar de 'postar' aqui um texto que li há tempos , e que se ajusta e completa plenamente a 'minha homenagem' de 28Jul, algumas linhas abaixo, a esta ilusre pedagoga, que nos úlltimos dias tenho descoberto mais aprofundadamente.
Autor Serafim Ferreira., a propósito de 'SolidãoII', que tenho entre mãos.
" Irene Lisboa é uma prosadora que, vivendo em tempos de infortúnio e de miséria fascista que mais e sempre sobressaltaram a sua alma de Mulher sensível e simples, atenta ao mundo em que viveu e por isso soube captar desse tempo penumbroso um retrato amargurado e pungente, doloroso em muitas circunstâncias, ao longo de uma vida que só o não foi de coisa nenhuma por ter sabido preenchê-la, no aparente vazio do seu universo literário, com a profunda humanidade de um saber estar nesse mundo e ter olhos para ver, ouvir e não calar, nunca calar, reinventando o mistério da vida e revalorizando o que tantas vezes não pôde ser valorizado, por ter desde o início da sua aventura criadora, como já disse Óscar Lopes, «a preocupação dominante de não trair a vida por amor à arte, pela convicção de que a única obra de arte definitiva é a totalidade da vida humana».

Mas, apesar de nos últimos anos ter crescido o interesse pela obra da autora de Solidão, a verdade é que ainda não foi de todo vencida a barreira de silêncio ou de esquecimeno que envolve toda a sua obra, embora a edição em curso dos seus livros (de que Solidão II é o décimo título a ser incluído nesta edição das "Obras de Irene Lisboa") possa e deva consentir que os leitores de hoje se aproximem e descubram os segredos e prazer da leitura, porque no conjunto da sua obra, a autora de Uma Mão Cheia de Nada bem merece ser permanentemente colocada na primeira linha da nossa literatura, como um dos poucos escritores portugueses que conseguiram, com uma persistência tão corajosa e uma generosidade sem limites, redescobrir o amor das coisas simples, do dia-a-dia sem história, dos próprios actos fugazes ou na aparência quase sem importância de um quotidiano vivido em sobressalto.

A apreensão lúcida e desapiedada na fixação dos matizes que o sol da vida a todo o instante clarifica, a virilidade quase masculina e o atrevimento de captar, crua e corajosamente, tantíssimas vezes, a realidade de uma vida suportada com heroísmo e arrogância, sempre em solidão, tudo isso faz a grandeza de uma Mulher que nasceu para a literatura, de uma Escritora que foi vencida pela «fada má» da sua estrela, mas soube suportar tudo como remédio talvez para as grandezas tornadas misérias de um dia e outro dia, deixando uma obra literária feita de generosidade e de amor pelos outros, repetimos, onde o que é vivido poucas vezes se transfigura através de um processo literário que que se relaciona mais com a sua própria intimidade do que com a literatura no sentido em que esta se entende (e aceita) tantas vezes, sem fazer grande sentido.

Mas a verdade é que a obra de Irene Lisboa, sendo o retrato exacto de uma vida mártir-e-glória-de-si-mesma, atinge momentos raros de expressão humana vivida e sentida por dentro, é a transposição em termos precisos e verdadeiros de um mundo construído na amargura dos dias, na existência de uma alma apenas entregue a si própria, vivendo as dores e sofrimentos de toda a gente do mundo que a rodeava, solidária e solitária, acabando por erguer uma obra à imagem e semelhança da sua vida.

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